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“A gente não quer só comida, a gente quer comida diversão e arte”

“A gente não quer só comida, a gente quer comida diversão e arte”

 

A famosa frase da música do Titãs, “a gente não quer só comida, a gente quer comida, diversão e arte”, foi praticamente hino das novas lutas por políticas sociais que não enchessem o povo com ‘pão e circo’, mas que contribuísse para a formação de um povo autossuficiente, crítico e, principalmente, com a própria cultura, não mais absorvendo o que vem de outros países.

No entanto, pedir para políticos valorizarem a educação e cultura é pedir para que eles deem um tiro no próprio pé. Afinal, povo inteligente, é povo que não se contenta com qualquer coisa, é povo que vigia, que reclama e que elogia quando necessário. Povo inteligente é povo que luta, ou seja, é um perigo para políticos corruptos.

E eu, como a maioria dos brasileiros, já passei da fase de acreditar em políticos bonzinhos, apesar de lá no fundo acreditar em algumas boas intenções isoladas. E é uma dessas boas intenções, de muito bom gosto, que venho falar.

O radialista, jornalista e colunista Ramiro Guedes, que no momento está no comando do Departamento de Cultura do município, promoveu uma exposição de artes visuais em Teixeira de Freitas, só com artistas baianos contemporâneos. Foi uma das poucas ações da prefeitura nesses meses de hegemonia petista que eu achei realmente digna de ser elogiada. Mesmo porque, como coloquei antes, valorizar a cultura e a educação não são coisas que o meio político goste de fazer.

Muitos poderão dizer que é hipocrisia da minha parte, ou, no mínimo, uma forma de puxar-saco do colega repórter, mas não é isso. Eu sei que uma exposição de arte não coloca pão na mesa de D. Maria, do Tranquedo Neves, que nem sempre tem o que comer. Sei que as belíssimas fotografias não geram emprego para o Seu José, do Ulisses Guimarães, que está há quase um ano desempregado. Eu sei que uma escultura não traz saúde para a filha de D. Luiza, no Castelinho, que teve que mais uma vez acordar de madrugada em busca de uma ficha de atendimento do posto de saúde e ainda não logrou resultados.

Eu sei de tudo isso. Na pele.

Mas sei também, e aqui só os entendidos em arte, ou os sensíveis e inteligentes para tal noção compreenderão que o quadro, a fotografia, a escultura e toda a forma de arte trazem mais do que alimento para o corpo, trazem o alimento da inteligência e da alma do cidadão.

Tem sentimentos que nós não sabemos como expressar o que, como e porquê sentimos, e as vezes escutamos aquela musica que diz tudo o que queríamos dizer e ela nos toca profundamente. Isso é arte. É nos deixar sermos tocados. É a concretização do sentimento.

A arte nunca está preocupada em agradar ao seu contexto, porém, uma das formas de se registrar a história de um povo é por meio da arte da época. Como saberíamos que os primeiros anos exploração do Brasil, principalmente em Minas Gerais, foi de extrema riqueza do clero, sem as obras de Aleijadinho, e toda a ornamentação das igrejas em ouro e outras preciosidades? Ainda mais distante na história, como saberíamos que o homem gregoantigo esteve preocupado com o corpo perfeito e a beleza tento como base o humano, profano e o divino e perfeito, como na escultura de Afrodite, em que a mulher na forma de deusa traduz o padrão de beleza da época?

Esses são só exemplos do Barroco e do Clássico (grego), já que se eu fosse ficar dando exemplos seria uma escrita infinita.

Voltando ao salão de artes em Teixeira, uma das obras na exposição promovidas pelo departamento do colega Ramiro que me chamou a atenção foi a de Devarnier Hembadoom Apoema, de Simões Filho, intitulada “Caixa de socorro para hipocondríacos compulsivos”. Na obra o artista separa 8 caixinhas, 7 delas para cada dia da semana e uma para os feriados. Em cada caixinha é colado 1 remédio diferente, menos na do feriado que se encontra cheia de remédios.

Segunda a moça que acompanha a gente, falando sobre as obras, o artista quis mostrar como é a vida daquelas pessoas viciadas em remédios e que nos feriados se ver ainda mais necessitado disso. Mas será somente isso? Fui um pouco mais além na interpretação e me vi como uma pessoa que tem outros tipos de ‘remédios’ como válvula de escape do cotidiano. A vida, contemporânea, é carregada de dificuldades. Às vezes estamos cercados de gente e nos sentimos sozinhos. O mal do século é a depressão.

As pessoas parecem tão felizes em suas fotos no Facebook. Mas será que realmente são? O tempo todo? Ou o Facebook é somente um remédio para o hipocondríaco virtual?

Qual o remédio que você utiliza para buscar essa felicidade obrigatória do dia a dia e que são ainda mais obrigatórias nos feriados? Ou o que você tem usado para amenizar a sua falta de contato com o mundo e com a felicidade?

Qual o remédio que utilizamos para substituir a felicidade diária?

Essas indagações e reflexões nasceram ao observar uma pequena obra de arte, que para mim tem valor incalculável. Pode ser que para outra pessoas não desperte nada. Como também pode ser que outros vejam coisas que nem eu, nem a mocinha vimos. Talvez vejam até o que o artista nunca imaginou.

Outra obra que me apaixonei e fiquei com vontade de trazer para casa foram as fotografias da Viviane Viriato, de Amargosa. Nelas a autora trabalha com a aproximação e foco na câmera, e brinca com o jogo de luz entre o luar e a sinuosidade do que eu vi como um corpo feminino. É erótico. Brinca com a estética dos corpos e da fotografia. Esse me fez parar na frente dele por longos períodos. E quanto mais eu me afastava, mais via figuras diferentes, quanto mais perto mudava minha percepção inicial. A menina do salão me acompanhava em minha valsa na frente do quadro. Íamos para trás e para frente na frente deles e chegamos a conclusão que a autora queria que interagíssemos com o foco da câmera, assim como os profissionais fazem com a máquina. Estive, em alguns momentos, num universo paralelo: a câmera brincava comigo e eu via a imagem conforme a posição que ela me colocava.

Só tinha visitado museus e exposições nas minhas poucas idas a Salvador, Rio de Janeiro e Niterói (cidade que respira arte, graças a Niemeyer, em grande parte). E aproveito o espaço para parabenizar todos os organizadores pela valorização dos novos tipos de expressão artísticas da Bahia, que, pelo que pude perceber, deixou um pouco de lado a religiosidade e o sertão, e entrou de vez nas tendências tecnológicas e modernas.

Obrigada pelos momentos de ‘diversão e arte’ Ramiro Guedes. Agora que tal a ‘comida’ em um almoço a brasileira?

Petrina Nunes-Jornalista Jornal Alerta


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