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A lógica do mercado no processo eleitoral.

A lógica do mercado no processo eleitoral.

No ambiente político do sistema capitalista, os empresários são atores estratégicos para definição dos rumos de uma eleição. Por mais que se diga que o “povo unido jamais será vencido”, um grupo de empresários unidos pode alterar o ditado popular para “o capital unido nunca será afligido”. É que a economia capitalista depende enormemente de uma palavra mágica que se chama investimento, e para se fazer investimento é necessário o capital e toda a sua engenharia financeira que ficam nos bastidores dos negócios. Nenhum candidato tem vida política vigorosa sem um grupo de apoio financeiro. Há todo um arranjo financeiro para sustentá-lo. As apostas são feitas e os acordos são firmados, mas quem pagará a conta são os contribuintes. É assim que o esquema funciona. Quase tudo é negócio…

Há uma relação entre dinheiro e voto na urna? Sim. Na condição de pobre e desafortunado, o candidato não passa na disputa política se não tiver o “arame”, “o sabão”, “o-faz-me-rir”. Sem dinheiro não há vitória. Os que passam pelo crivo dos eleitores sem grandes recursos são verdadeiros milagres dos conscientes, ou respostas irreverentes ao caos instalado, principalmente, pela falta de opção de candidatos sérios e propostas significativas.

A questão central é perceber o papel velado dos empresários nas eleições: capturar a despesa pública por meio de estratégias e jogadas licitatórias. Disputam-se formas de participar na despesa pública, pois o Estado é o maior comprador da economia capitalista. Logo, o empresário não é um ator inócuo. Ele pode decidir uma eleição por meio de uma singela compra de consciências, sobretudo da consciência dos incautos. Sim. Algumas consciências se vendem mediante telhas, dentaduras, sapatos e cargos públicos em caso de vitória.

Percebe-se que o empresário transvestido de cidadão intocável pode se tornar uma ameaça à cidadania quando leva as leis de mercado para dentro do processo eleitoral. No mercado, comprar e vender são atividades normais. Contudo, quando a lógica do mercado invade o processo eleitoral, a situação se complica. Diante da trágica e precária educação política do povo, a grana extra das eleições, oriunda da compra de votos, macula a disputa eleitoral e inibe de certa forma a alternância do poder em muitos casos. Não menos, a prática ofende aos gregos cidadãos que participam inocentemente das eleições democráticas.

Entretanto, não é regra geral para muitos empresários a participação política de forma ostensivamente financeira. Há aqueles que absorveram fluídos democráticos e defendem o Estado de Direito e um regime democrático que realmente promovem a justiça e a paz social. São ícones raros, representantes da modéstia e do silêncio dos sábios. São homens que conhecem as mazelas do sistema, mas venceram as dificuldades da realidade opressora com árduo trabalho em seus empreendimentos.

Eles pagam impostos, não sonegam, e se dedicam às obras de caridade como forma de amenizar a dor do próximo. Normalmente, seguem uma perspectiva do tipo doutrina social da igreja, ainda que não lhe seja muito claro o que significa. Eles são baluartes silenciosos do regime democrático e arrebatam a simpatia do povo por serem prósperos e caridosos em muitos casos. Não se envolvem ostensivamente na política para obter favores dos eleitos, nem disputam espaços com os políticos. Eles são homens de negócios que venceram por meio da competência empresarial e não por causa dos acordos firmados para lotear os aparelhos estatais.

O contraponto é o empresário-político pragmático que cartesianamente determina o nível das comissões das licitações e as taxas mínimas e máximas que lastreiam toda a grana do mundo político. Caetano Veloso revela musicalmente o lado do pragmatismo político-empresarial em que “morrer e matar de fome, de raiva e de sede são gestos naturais.” É com a naturalidade cartesiana que a política eleitoral pode ser decidida com uma injeção de estimulantes monetários para conduzir votos ao candidato de maior apoio empresarial, embora não seja o candidato de maior apoio dos cidadãos comuns. O estimulante monetário revela a prática da compra de voto que dissolve os valores democráticos e se constitui crime eleitoral. É uma doença que aflige o sistema…

Há inúmeros interesses que vão além da propaganda política. A lógica do mercado político permite analisar riscos e assumi-los para se alcançar a vitória. Os fins justificam os meios, e ponto final. Os riscos são inevitáveis para a sociedade, pois os acordos políticos sufocam a capacidade do aparelho estatal de atender às reais necessidades da população, passando, normalmente, a atender às necessidades do grupo financiador da campanha. É a assim que se esvaziam os cofres públicos e não se atende às reais necessidades da população.

Como resultados desta estratégia política surgem a falta da merenda escolar, a degradação das ruas pavimentadas, a falta de pavimentação de muitas áreas urbanas, a falta de iluminação pública, a falta de postos de saúde, hospitais abandonados, salários atrasados do funcionalismo público e outros tantos problemas.

A lógica do mercado no ambiente eleitoral é crime. O cidadão não deve vender seu voto, mas quando ele está fragilizado pela ignorância política e suas necessidades se restringem ao pão e aos espetáculos circenses, é inevitável, ele vende o voto a quem lhe ofertar um bom preço no mercado eleitoral. Quem paga pelo voto normalmente desfruta da imunidade que o dinheiro lhe proporciona.  No final da negociação todos os contribuintes pagam a conta.

*Prof.Adm. João Carlos Vieira da Silva, Administrador, Consultor Empresarial, contato:jcvs.cons.adm@hotmail.


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