BAHIA ECONÔMICA – Como o senhor vê hoje a situação das estradas na Bahia? Qual o balanço do setor rodoviário no Estado.
OTTO ALENCAR – Do ponto de vista das rodovias federais na Bahia, eu digo que elas melhoraram sensivelmente no governo Lula. Não há como negar isto, inclusive em função de recursos oriundos da CIDE. Com tais recursos, viabilizou-se a recuperação das estradas federais contemplando, sobretudo, os principais eixos, tais como a BR-116, a Rio-Bahia, a BR-242, a BR-110, a BR-407. Enfim, várias rodovias federais foram melhoradas por conta da CIDE. Em relação às estaduais – as chamadas BAs – nos primeiros quatro anos o Governo Wagner recuperou diversas rodovias e construiu novas estradas – quase 1200 quilômetros, além de ter recuperado outras. Isto é um marco importante para o Governo. Então, esse projeto de construção e recuperação de estradas foi importante e terá continuidade nos próximos quatro anos de gestão. Está no programa do governador construir estradas com bom pavimento e asfalto para todas as sedes municipais que ainda faltam na Bahia. Ainda temos 27 sedes de municípios sem asfalto. O governador autorizou agora a construção em 10 delas. Até o final do governo todas as sedes municipais serão pavimentadas. Não podemos chegar a uma sede de município e encontrar a pista com um revestimento ainda primário num Estado com o potencial que a Bahia tem. Portanto, esse programa de estradas é muito bom. Você já deve ter visto por aí que houve uma grande melhora nas rodovias estaduais e federais. É importante destacar que a Bahia tem uma extensão territorial muito grande: são 576 mil km2. Logo, não é de uma hora para outra que tudo isso será resolvido. Entretanto, acredito que até o final deste governo a situação da malha viária estará bem melhor.
BE – Ainda nesta área de logística, foi importante a ordem de serviço da ferrovia Oeste-leste. Como está o andamento das obras e qual a sua expectativa em relação à conclusão dessas obras?
OA – A expectativa é positiva. As obras já foram iniciadas em vários trechos da extensão de toda a rodovia. Acredito que haverá um cronograma de execução física da obra compatível com o que está pré-estabelecido no contrato. Já no Porto-sul estamos trabalhando para que as licenças ambientais sejam autorizadas pelos órgãos competentes. Dessa forma, poderemos iniciar logo as obras desse porto. Acho que a mudança da posição física do porto para a nova localidade, é muito mais adequada e isto irá facilitar o licenciamento. Inclusive os próprios técnicos dos órgãos têm essa avaliação. Neste porto haverá um porto público e outro privado da Bamin. Já se começa a estudar também a possibilidade da participação de uma empresa privada na administração e na execução física da obra do porto público.
BE – O governador lançou uma idéia de privatização do porto de Aratu. Qual a sua opinião sobre isso?
OA -Eu concordo com o governador que esse é o melhor caminho. Mas o problema é que não existe marco regulatório. Eu defendo que o governo federal modernize o mais rápido possível a legislação para a construção, concessão e participação da iniciativa privada nos portos. Acho que o governo federal deveria estabelecer logo um novo marco regulatório mais contemporâneo que desse mais facilidades para as empresas privadas participarem da execução dos portos públicos. Isto é uma necessidade do país para o seu desenvolvimento econômico a fim de destravar essa parte logística que depende de portos e transportes marítimos.
BE – Qual a sua opinião sobre a ponte Salvafor-Itaparica?
OA – Acredito que Ponte Salvador-Itaparica é fundamental para a Bahia, para toda aquela região do Recôncavo e para criar um novo vetor rodoviário, o vetor Oeste. Aliás, acho que a população de toda essa região e de outras deveria estar fazendo passeatas pedindo a construção da ponte. A BR-324 é a principal via de entrada e saída da capital e já não agüenta mais o volume de tráfego. Quem passar pela BR-324 no horário de pico já vai enfrentar grandes engarrafamentos e a coisa está piorando, pois Salvador está e Feira de Santana estão cada vez mais vinculadas. Em breve a BR-324 será uma grande avenida, pois está aumentando a ocupação ao longo da via. Em 20 anos, a Salvador-Feria será como é hoje a Av.Paralela, em termos de volume de trafego e de engarrafamentos. Os engarrafamentos são grandes hoje e serão maiores. Com a ponte se criará um novo vetor novo vetor ligando Salvador ao Oeste, pela BR-242, mas não é só construir a ponte, é preciso também duplicar a ponte do funil, duplicar da estrada que vai até Santo Antonio de Jesus, daí se chega a até Castro Alves e depois a BR-242 em direção ao Oeste. Mas tudo isso tem de ser feito com planejamento urbano, com preocupação com o meio ambiente e preservando a biodiversidade da ilha. E é preciso dotara a Ilha de infraéstrutura, colocar saneamento, água, estimular a economia, construir hotéis, enfim, fazer um planejamento adequado.
BE – Como seria financiada, através de PPP ou alguma empresa estaria interessada.
OA – Pode ser PPP ou através de financiamento. Já existem empresas interessadas. Tem uma PMI sendo analisada. Mas a Bahia é 6ª economia do país, tem de ter condições e apoio do governo federal para fazer a obra. Pode existir várias possibilidades e projetos para dar mais condição de viabilidade econômica já que o investimento é grande. E veja este é um estado com enormes potencialidades, tem a produção de cana no extremo sul. Outro dia um produtor me disse: “aqui é como se tivesse um pivô central”. É um pivô central da natureza, chove na hora certa, e para de chover na hora certa. A mesma coisa é a produção de milho e feijão da região de Ribeira do Pombal, Adustina, Parapiranga, é pivô central, tem chuva e não se perde uma safra. Antigamente o feijá era em Irecê, mas hoje é nessa região aom alta produtividade. E Irecê a produção é por encomenda. Irecê significa terra em cima da água. O agricultor hoje pergunta o que o produtor quer comprar e fura o solo e irriga. E vai ter o projeto baixio de Irecê, que já está produzindo. A Bahia tem petroquímica, automóveis, mineração, tem a produção do Oeste. É aquela coisa, Deus é brasileiro, maseu digo Deus é baiano, aqui tem muita potencialidade.
BE – Em relação à energia, a secretaria vem trabalhando forte na área de energia eólica. Fale um pouco sobre isso.
OA – A energia eólica é um grande potencial para o semi-árido. O potencial eólico da Bahia é mais que o dobro da usina de Itaipu, hoje já temos 13%, 14% do potencial eólico brasileiro. Vamos ter “fazendas de ventto” na Chapada Diamantina, que já está pronta, só falta a estrada para ser inaugurada, e também na região da Serra Geral, com um investimento de R$ 4 bilhões e também na região de Sobradinho. A Bahia tem um “ pré-sal de vento” e isso dinamiza a indústria, quatro indústrias já se instalaram no estado para produzir geradores. A Gamesa a Alston e outras E sabe porque um chamo de “ fazendas de vento” porque estão surgindo os “fazendeiros do ar”. Cada unidade eólica implantada paga de royalties ao dono da terra cerca de R$ 5 mil por mês. Eu conheço um produtor que tem 12 na sua fazenda. São R$ 60 mil por mês. É melhor do que criar gado. E veja: quando é que tem vento no sertão? Na época de seca. Quando chove não tem vento, mas aí tem água e gera energia hidroelétrica… A natureza é sábia. São complementares… Quando a curva da chuva é alta está enchendo lá a barragem de Sobradinho que está movimentando Itaparica, Xingó, Paulo Afonso I, II e III. Quando o lago abaixar vem o vento… . E com essa energia vem as indústrias. Amanhã será inaugurada aqui a Gamesa, tem a Alston, tem a GE e tem a Vester (?). Elas vão se instalar para produzir aero geradores aqui.
BE – Antes de passar para política, queria lhe perguntar sobre o fery-boat, sobre essa questão da TWB.
OA – Isso é um transporte hidroviário, o contrato foi assinado no governo Paulo Souto e esse contrato será revisto agora em 2011. A TWB assumiu os barcos (6 barcos). Eles são máquinas que precisam de conservação e manutenção. O que aconteceu foi o seguinte, esse sistema bate-volta quebra o motor. O casco bate e aí fica estragado, aí vai ter que trocar o barco. Só que a demanda pelo transporte aumentou muito e surgiu a necessidade de novos barcos. Então, tem um contrato que está em vigor, nós estamos exigindo que o empresário da TWB cumpra esse contrato e possa recuperar esses barcos. A dificuldade maior do nosso estado é o local para instalar estaleiro. Só existe um estaleiro na Bahia com capacidade para tratar esses barcos: o estaleiro da base naval de Aratu, que sempre está com navios atracados. Não tenho dúvida que esse transporte deixa a desejar. Estou me esforçando muito para fazer com que a empresa melhore o atendimento, mas isso não se faz de uma hora para outra. Estou aqui há apenas cinco meses. Espero que até o final do ano as coisas estejam numa situação bem melhor.
BE – Falou-se em alguma hipótese de estatização?
OA – Não. O estado não é o melhor gestor para transportes rodoviário e hidroviário, tanto que tudo que o estado tinha nesse sentido foi privatizado.
BE – Vamos falar um pouco de política. Você é o líder do PSD na Bahia. Como anda o partido?
OA – O partido já nasce forte. Não é um partido cartorial como existem alguns aí, apenas com o classificador debaixo do braço. O partido surgiu com uma base forte e vai se criar como uma opção de partido democrático, comprometido com as causas da Bahia e do Brasil com a visão de defender algumas bandeiras que eu acho fundamental para que o Estado brasileiro possa avançar muito: defender a livre iniciativa, a reforma tributária, a reforma política, modernização da legislação, atuar no Congresso Nacional em algumas áreas que precisam de uma legislação mais moderna. Há vários conceitos do estatuto do partido que nós estamos modernizando e procurando atualizá-los e também queremos defender algumas bandeiras, uma delas é a defesa das leis de mercado, além da diminuição da carga tributária, defesa da indústria brasileira, sobretudo, essas que são intensivas em mão de obra e que sofrem uma concorrência muito grande de países emergentes, tais como Índia, China, os países da América Central. Isto pode trazer o desemprego para o Brasil. Acho que a reforma tributária é fundamental, a carga está muito alta. Queremos defender a matriz industrial como um todo.
BE – O partido pretende ter um candidato a prefeito de Salvador e das demais cidades do estado?
OA – Para Salvador eu acho difícil, mas não é impossível. Pode surgir para as cidades de médio porte. Mas isto ainda é uma coisa muito embrionária. Aqui na Bahia vamos ter 5 deputados federais que entraram no PSD – Zé Nunes, Fernando Torres, Paulo Magalhães, José Carlos Araújo e Edson Pimenta – e mais 10 que são deputados estaduais – Ângelo Coronel, Rogério Andrade, Gildásio Penedo, Alan Sanches, Timóteo Brito, Ivana Bastos, Maria Luíza Laudano, Carlos Ubaldino e Ângela Souza. Seremos um partido forte.
BE – O PSD será a segunda força na Assembleia Legislativa da Bahia.
OA – Sim. Logo após o PT, mas ele nasce na aliança com o governo e ficará nesta aliança com o projeto político do governador Jaques Wagner.
BE – Se o Governador Jaques Wagner sair para deputado federal, você será o governador do Estado?
OA – Não é assim. Aqui a na Bahia há o caso em que o governador e o vice saíram e a Assembleia elegeu Antônio Imbassahy como governador. Então, há essa opção. Na política tudo pode acontecer. Mas eu digo a você que sou aliado do governador e vou está com ele nos próximos quatro anos. Dificilmente teremos algum tipo de divergência, mesmo porque tanto o governador (ele me conhece muito bem e vice-versa) nós somos desprovidos de ambição e de qualquer manobra que possa parecer extensão interna de grupo dentro de grupo. Também somos desprovidos de conspiração para ser aquilo que a população deseja que seja.
BE – Como o senhor ver esses primeiros meses do governo Dilma?
OA – Vejo de forma positiva. Ela é muito enérgica, decidida e competente. A presidente Dilma quer as coisas certas e vai agir sem tolerar desvios de comportamento na gestão da coisa pública. Ela não vai aceitar malversação de recursos públicos e vai cuidar muito bem disso. Ela é preparada, técnica e sabe tudo de administração. Portanto, acho que ela vai ser uma grande presidente da República até porque a responsabilidade é muito grande: é a primeira mulher a presidir o Brasil, ela não pode falhar de forma alguma. Lula dizia que não podia falhar porque ele era um operário, pois caso contrário não iríamos ter mais nunca um operário governando o país. Logo, Dilma também não pode falhar, pois se ela o fizer nunca mais uma mulher será presidente do Brasil (risos).
BE – Os analistas dizem que Otto Alencar é, dentre os líderes da Bahia, o que teria mais carisma e o que mais agregou os quadros políticos do estado. Entre as lideranças mais antigas, você seria aquela que possui o carisma mais agregador entre as lideranças que surgiram e poderia agregar novos grupos?
OA – Eu sempre fui assim. Fiquei 18 anos no grupo do senador Antônio Carlos Magalhães e nesta época eu renunciei para agregar… O senador Antônio Carlos não deixou sucessor. Na família não tem ninguém com sua capacidade política e as grandes lideranças forma cada uma para um lado. O Imbassahy foi para o PSDB, o César Borges foi para o PR, o Paulo Souto ficou no DEM e eu resolvi apoiar o governador Jaques Wagner, porque achei que esse era o melhor caminho para Bahia. E venho buscando agregar e dar atenção as lideranças do interior. Eu gosto de conversar com os prefeitos, com as lideranças e seguirei assim. Estamos montando um partido forte cujo objetivo é trabalhar pela Bahia.