O ex-vice-presidente da República e empresário José Alencar morreu há pouco, no Hospital Sírio-Libanês, em São Paulo. A morte do político, que faria 80 anos em outubro, foi confirmada pela assessoria de imprensa do hospital. Alencar foi internado às pressas ontem (28), no início da tarde, com um quadro de obstrução intestinal. Há mais de uma década, ele lutava contra um câncer no intestino.
O ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva e a presidente Dilma Rousseff, muito próximos a Alencar, estão em Portugal nesta terça-feira (29).
Desde 1997, o ex-vice-presidente lutava contra o câncer. Nos últimos 14 anos, Alencar foi internado diversas vezes, passou por um tratamento experimental nos Estados Unidos e se submeteu a dezesseis cirurgias.
José Alencar Gomes da Silva nasceu em 17 de outubro de 1932, na localidade de Itamuri, município de Muriaé, na Zona da Mata mineira. Foi o décimo primeiro dos quinze filhos de Antônio Gomes da Silva e Dolores Peres Gomes da Silva. Aos sete anos, Alencar já trabalhava na loja do pai e aos 14 anos deixou a casa da família para trabalhar de balconista numa loja de armarinhos da cidade de Muriaé.
Aos dezoito anos, iniciou seu próprio negócio. Para isto contou com a ajuda do irmão Geraldo Gomes da Silva, que lhe emprestou quinze mil cruzeiros. Na loja “A Queimadeira” vendia tecidos, calçados, chapéus, guarda-chuvas, sombrinhas e produtos de armarinho. Em 1967, em parceria com o empresário e político Luiz de Paula Ferreira fundou a Companhia de Tecidos Norte de Minas – Coteminas.
A Coteminas, um dos maiores grupos industriais têxteis do país, tem mais de 16 mil funcionários e fábricas em seis estados e uma na Argentina. Em 1989 e 1995, foi presidente da Federação das Indústrias do Estado de Minas Gerais (FIEMG) e também vice-presidente da Confederação Nacional da Indústria (CNI).
Ingressou na carreira política em 1994. Foi candidato ao governo de Minas Gerais pelo PMDB, mas não chegou ao segundo turno. Em 1998, foi eleito senador por Minas Gerais, com praticamente 3 milhões de votos, a segunda maior votação do país. Em 2002, já no PL, foi eleito vice-presidente da República na chapa de Lula. No começo, Alencar gerou polêmica, tendo sido uma voz discordante dentro do governo contra a política econômica defendida pelo ex-ministro da Fazenda Antonio Palocci.
Já a partir de 2004, passou a acumular a vice-presidência com o cargo de ministro da Defesa. Por diversas oportunidades, demonstrou-se reticente quanto à sua permanência em um cargo tão, mas a pedido do presidente Lula, exerceu a função até março de 2006. Renunciou para poder disputar as eleições. Foi reeleito vice-presidente, desta vez pelo PRB, para o mandato 2007/2010.
José Alencar Gomes da Silva era casado com a Senhora Mariza Campos Gomes da Silva e tinha três filhos: Josué Christiano, Maria da Graça e Patrícia.
Saúde
O estado de saúde do vice-presidente sempre foi motivo de preocupação. Em 1997, durante um check-up, Alencar descobriu tumores malignos, um no rim direito e outro no estômago. Desde então, se submeteu a várias cirurgias. Na primeira intervenção, o político perdeu dois terços do estômago e o rim direito. Dois tumores foram retirados.
Três anos depois, em 2000, Alencar descobriu um novo câncer, desta vez na próstata. Ele foi operado e o órgão removido. Em 2004, um cálculo obstruiu a vesícula do vice-presidente, fato que também resultou na remoção do órgão. No ano seguinte, Alencar passou por uma angioplastia para desobstruir as artérias coronárias.
Em 2006, o político foi internado duas vezes, para a retirada de um tumor maligno e de um nódulo no retroperitônio, na região do abdome. Um novo tumor na mesma região foi descoberto, em 2007. José Alencar teve de ser operado outra vez. No segundo semestre de 2008, passa por nova intervenção cirúrgica na região do abdome. Três tumores malignos foram extirpados.
O vice-presidente estava sendo tratado com um medicamento espanhol durante as sessões de quimioterapia. Em janeiro de 2009, com a droga estrangeira não surtindo o efeito esperado, o político passou por uma complexa operação de mais de 17 horas de duração. Um tumor principal e outros oito menores foram retirados. Partes dos intestinos delgado e grosso, além de dois terços do ureter, canal responsável pelo transporte da urina entre o rim e a bexiga, precisaram ser removidas. O ureter foi substituído por uma parte do intestino delgado.
Em maio do mesmo ano, foram descobertos 18 novos tumores malignos na região do abdome. O vice-presidente decide viajar para os Estados Unidos para fazer um tratamento experimental. A nova droga ataca as células que provocam o tumor, e o impedem de agir. Em julho de 2009, Alencar passa por outras duas intervenções. A primeira, no dia 9, para desobstruir uma das alças do intestino delgado e a segunda, no dia 24, para tratar a obstrução do intestino grosso em razão de tumores, alguns removidos na cirurgia.
No começo de 2010, Alencar é submetido a exames apontam anemia e um quadro congestivo pulmonar. O problema seria decorrente da quimioterapia. Em julho, os médicos identificaram uma isquemia cardíaca (deficiência na irrigação sanguínea do coração) e o vice passa por um cateterismo.
Alencar volta ao hospital com quadro infeccioso em setembro. No mesmo mês, ele é internado mais uma vez, agora para tratar um edema no pulmão. No final de outubro, foi internado para tratar uma obstrução intestinal. Ele não pode votar no segundo turno das eleições e recebeu a visita do presidente Lula e de Dilma Rousseff no hospital. Em novembro sofreu um infarto no miocárdio e passou por mais uma cirurgia para desobstruir o intestino.