Foto: Lula Marques/Agência PT
Uma gravação do ex-presidente da Transpetro Sérgio Machado, delator da Operação Lava Jato, mostra o presidente do Senado, Renan Calheiros (PMDB-AL), numa conversa no último dia 24 de fevereiro orientando uma pessoa identificada como Wanderberg, apontado como representante de Delcídio do Amaral (sem partido-MS), sobre como fazer a defesa do então senador.
Na época, o ex-líder do governo no Senado respondia a processo de cassação do mandato de senador no Conselho de Ética por quebra de decoro parlamentar. Delcídio teve o mandato cassado no último dia 10 pela unanimidade dos votos dos senadores presentes. Na data da gravação, Renan não sabia que Delcidio já era delator da Lava Jato. Renan afirma que é preciso que o presidente do conselho, senador João Alberto Souza (PMDB-MA), peça diligências para dar a entender que a investigação estivesse parada.
O peemedebista ainda sugere que Delcídio faça uma carta demostrando humildade e que já pagou o preço pelo que fez. Veja a conversa:
RENAN: O que que ele (Delcídio) tem que fazer… Fazer uma carta, submeter a várias pessoas, fazer uma coisa humilde… Que já pagou um preço pelo que fez, foi preso tantos dias… Família pagou… A mulher pagou…
WANDEMBERG: Ele (Delcídio) só vai entregar à comissão, fazer essa carta e vai embora.
RENAN: Conselho de ética. Falei agora com o João (João Alberto, presidente do Conselho de Ética). O João, ele fica lá ouvindo os caras… O Conselho de Ética não tem elementos para levar processo adiante. Também é ruim dizer que não vai levar o processo adiante. Então, o Conselho de Ética tem que requerer diligências requisição de peças e enquanto isso não chegar fica lá parado…
WANDEMBERG: (João Alberto) vai colocar em votação e vai ter uma derrota antecipada…
Investigadores da Lava Jato apontam Sérgio Machado como o caixa da cúpula do PMDB. Em troca de uma possível redução de penas, o ex-presidente da Transpetro começou a gravar conversas com Renan e com outros líderes do partido que levaram à assinatura do acordo de delação, validado nesta quarta-feira (25) pelo ministro Teori Zavascki, do STF.
Em outra gravação de Sérgio Machado, datada no dia 11 de março, o ex-presidente da Transpetro conversava com Renan. Ambos criticavam o procurador-geral da república, Rodrigo Janot. Falam em “fórmula de dar um chega pra lá nessa negociação ampla, para poder segurar esse pessoal”, dando a entender de que tratavam dos investigadores da Lava Jato.
Os dois fazem críticas a vários políticos no diálogo, entre eles o senador Aécio Neves, presidente do PSDB; o deputado Pauderney Avelino (AM), líder do DEM; “Mendoncinha”, como é chamado o agora ministro da Educação, deputado Mendonça Filho (DEM-PE); senador José Agripino (RN), presidente do DEM; senador Fernando Bezerra (PSB-PE); senador José Serra, do PSDB, atual ministro das Relações Exteriores, e a agora presidente afastada Dilma Rousseff. Confira:
SÉRGIO MACHADO: Agora esse Janot, Renan, é o maior mau caráter da face da terra.
RENAN: Mau caráter! Mau caráter! E faz tudo que essa força-tarefa (Lava jato) quer.
SÉRGIO MACHADO: É, ele não manda. E ele é mau caráter. E ele quer sair como herói. E tem que se encontrar uma fórmula de dar um chega pra lá nessa negociação ampla pra poder segurar esse pessoal (Lava Jato). Eles estão se achando o dono do mundo.
RENAN: Dono do mundo.
SÉRGIO MACHADO: E o PSDB pensava que não, mas o Aécio agora sabe. O Aécio, Renan, é o cara mais vulnerável do mundo.
RENAN: É…
SÉRGIO MACHADO: O Aécio é vulnerabilíssimo. Vulnerabilíssimo! Há muito tempo.
SÉRGIO MACHADO: Como que você tem cara de pau, Renan, aquele cara Pauderney que agora virou herói. Um cara mais corrupto que aquele não existe, Pauderney Avelino.
RENAN: Pauderney Avelino.
RENAN: Mendocinha.
SÉRGIO MACHADO: Mendocinha, todo mundo pô? Que *** é essa querer ser agora o dono da verdade?
SÉRGIO MACHADO: O Zé (Zé Agripino) é outro que pode ser parceiro, não é possível que ele vá fazer maluquice.
RENAN: O Zé, nós combinamos de botá-lo na roda. Eu disse ao Aécio e ao Serra. Que no próximo encontro que a gente tiver tem que botar o Zé Agripino e o Fernando Bezerra. Eu acho.
SÉRGIO MACHADO: O PSB virou uma oposição radical. O Zé não tem como não entrar na roda.
RENAN: O PSB quer o impeachment, mas o Fernando (Bezerra) é um cara bom.
SÉRGIO MACHADO: Porque também entende disso que a gente está falando.
RENAN: É.
SÉRGIO MACHADO: Porque tem que tomar cuidado porque esse *** desse Noblat [se referindo ao colunista Ricardo Noblat, do jornal “O Globo”] botou que essa coisa de tirar a Dilma é maneira de salvar os corruptos.
RENAN: Tirar a Dilma? Manter a Dilma?
SÉRGIO MACHADO: Tirar a Dilma. Que é um processo de salvação, de salvação.
RENAN: Que é a lógica que ela fez o tempo todo.
SÉRGIO MACHADO: É porque esse processo. Porque Renan vou dizer o seguinte: dos políticos do congresso se “sobrar” cinco que não fez é muito. Governador nenhum. Não tem como, Renan.
RENAN: Não tem como sobreviver.
SÉRGIO MACHADO: Não tinha como sobreviver.
RENAN: Tem não.
SÉRGIO MACHADO: Não tem como sobreviver. Porque não é só, é a eleição e a manutenção toda do processo.
RENAN: É.
Em uma gravação, Machado ainda acusa Janot de trabalhar para que ele seja julgado pelo juiz Sérgio Moro. Renan respondeu que isso não poderia acontecer.
SÉRGIO MACHADO: O que eu quero conversar contigo… Ele não tem nada de você, nem de mim… O janot é um **** da maior, da maior.
RENAN: eu sei. Janot e aquele cara da… Força tarefa…
SÉRGIO MACHADO: Mas o Janot tem certeza que eu sou o caixa de vocês. Então o que ele quer fazer. Não encontrou nada e nem vai encontrar nada. Então quer me desvincular de você. (…) Ele acha que no Moro, o Moro vai me prender, e ai quebra a resistência e aí… Então a gente precisa ver, andei conversando com o presidente Sarney, como a gente encontra uma… Porque se me jogar lá embaixo eu estou ***.
RENAN – Isso não pode acontecer.