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Mulher apanha porque gosta?

Mulher apanha porque gosta?

Ocorreu no dia 01 de agosto a Marcha das Vadias em Teixeira de Freitas, que luta pelo fim da violência contra a mulher, fim da homofobia, racismo e machismo. E apesar de entender a falta de inteligência e de informação da um grande número de pessoas, e saber que se assustam com o nome, fiquei incrédula em saber que apesar de entenderem a causa algumas pessoas continuavam contra.

Um dos seres que mostrou ser mais do que contra a marcha, era também contra as mulheres, deixou claro sua opinião, para ele “mulher apanha porque gosta”, e, além disso, as mulheres “não se dão ao respeito”, segundo o que ele gritou por aí. Não no sentido sexual, sadismo, ou masoquismo, ele foi muito além.

Conversando com outras militantes, de outros tipos de movimentos sociais em prol das minorias eu entendi que qualquer começo é difícil de ter boa aceitação, principalmente quando é em defesa de um grupo estigmatizado e maltratado não somente pelo Estado, como também pela igreja e outros grupos de fortes poderes sociais.

Imaginei como deve ter sido difícil para aquelas pessoas que lutaram (e ainda lutam) pelo fim da escravidão e fim do racismo. Ainda estamos em um país racista, infelizmente se livrar de certas amarras culturais levam anos, décadas. Mas as novas gerações tem aceitado a pluralidade das raças e se aceitado como brasileiro dessa mistura étnica.

E a defesa das mulheres? Sempre houve mulheres subversivas, que tentaram iniciar uma luta com pequenas atitudes para se impor na sociedade. Sabe o que acontecia com essas guerreiras? Ora eram queimadas, ora apanhavam, ora eram excluídas do convívio social levadas a manicômios e outras formas de prisões, ora eram mutiladas de todas as formas inimagináveis e assim por diante. Toda a forma de repressão que podiam inventar eram dedicadas a essas ‘bruxas’, ‘putas’, ‘santas’, ‘guerreiras’, ‘militantes’, mulheres (simplesmente, mulher).

No processo de organização desse evento, minha preocupação não era arrumar mais um modo de ‘curar’ mulheres machucadas, violentadas, pois a minha cidade tem isso, e pelo que fiquei sabendo, apesar de já chegarem a esses locais extremamente humilhadas e feridas elas voltam ao convívio dos algozes na grande maioria das vezes.

Minha motivação era fazer protesto de conscientização para que isso não ocorra mais. Para que parem de falar como as mulheres não devem ser estupradas, e comecem a educar homens a não estuprar. Para que tenham respeito com a liberdade de escolha e liberdade sexual das pessoas. Para que respeitem infâncias, respeitem negras, brancas, índias… E nada melhor do que a Marcha das Vadias que surgiu como um grito de libertação e que ganhou o mundo.

E recebi uma quantidade considerável de mensagens de mulheres que agradeceram essa iniciativa, algumas conversavam comigo escondidas de seus companheiros. Se essas mulheres se unissem, no mínimo, encheriam a avenida. E sabe o que aconteceu no dia? Não havia sequer uma dessas mulheres lá. No dia eu fiquei chateada. Pensei em cogitar que algumas mulheres gostam de apanhar.

Depois refleti novamente, e pensei no dia a dia dessas mulheres: sem poder falar o que querem, fazer o que querem, sem poder ser dona do próprio corpo. Nessas mulheres feridas e maltratadas, não somente pelo companheiro que tinham escolhido para viver o resto da vida e para amar, como também pela família que é cúmplice da violência ao fazer ‘vistas grossas’ ou ao dar conselhos do tipo “ruim com ele, pior sem ele”. E até mesmo por uma sociedade hipócrita que não emprega mulheres, pois são ‘parideiras em potencial’ e isso é ‘prejuízo’ ao comerciante, ou que não permitem que essas mulheres se impõem, pois “Deus a criou para ser submissa ao homem”, dentre outros absurdos diários que a gente escuta.

E concluir que é justamente por conta disso que eu marcho. Marchamos para que a mulher possa ir e mostrar seus rostos e corpos sem medo de retaliações e ou condenações machistas e hipócritas. Eu fui julgada e xingada por homens e mulheres machistas, e senti uma pena enorme de ainda viver em um sociedade assim, em que se eu declarar que fui estuprada “tudo bem, tudo certo, tudo normal”, mas se eu declarar que escolhi me defender das consequências desse estupro “não pode, sou puta, a culpa foi minha e eu tenho que assumir”.

Coisas que não dão para entender para uma mente evoluída. Assim como os escravocratas não entendiam a atitude dos ideais de liberdade para os negros, e tinham argumentos sociais, antropológicos, culturais e religiosos para defender a escravatura, também os machistas de hoje não entendem os ideais de liberdade para igualdade entre os sexos, e tem argumentos semelhantes aos escravocratas para defender a sua posição. Não vou me preocupar com isso, pois chegará o dia que todas as mulheres serão livres, também.


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