‘Se Medellín conseguiu mudar a segurança pública, por que o RJ não pode?’

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04 de novembro de 2025
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Foto: Reprodução/CNN


Por José Maria Tomazela, do Estadão

O Rio de Janeiro iniciou um caminho efetivo para lidar com o problema da violência urbana quando adotou o modelo das Unidades de Polícia Pacificadora (UPPa) em 2008, mas viu o programa sair dos trilhos quando deu escala ao modelo sem ter estrutura para a ampliação. Esta é a opinião de Ricardo Balestreri, coordenador do núcleo de Urbanismo Social e Segurança Pública do Insper.

Balestreri aponta o urbanismo social adotado por Medellín como exemplo para o Rio e outras cidades brasileiras tomadas por facções criminosas, como o Comando Vermelho. A cidade colombiana, nos anos 1980 e 1990, era vítima da insegurança e do narcotráfico, cujo retrato mais famoso é o cartel de Pablo Escobar.

Nos anos 2000, além do enfraquecimento dos grupos armados, Medellín investiu em transformações sociourbanas, como alargamento de ruas, a criação de estruturas de mobilidade (escadas elétricas rolantes) e espaços de convivência, entre elas praças e bibliotecas.

Hoje, a cidade de 2,5 milhões de habitantes tem os menores índices de homicídios em quarenta anos. “Se Medellin conseguiu mudar a segurança pública, por que o Rio de Janeiro não pode?”, questiona Balestreri.

Ele – que foi secretário nacional de Segurança Pública e secretário da área em Goiás – avalia que a megaoperação policial na semana passada no Rio, que teve 121 mortos, entre eles quatro policiais, expõe o fracasso da política de combate ao crime do governo fluminense ao longo das últimas décadas.

Veja abaixo os principais trechos da entrevista concedida pelo especialista ao Estadão.

O que é possível fazer para conter o avanço das facções no Rio?

No Centro de Estudos de Cidades do Insper, colocamos na mesa esse paradigma: podemos mudar o Brasil, mas temos de tratar segurança pública junto com urbanismo social. É o que Medellin fez: era uma das piores cidades do planeta e hoje virou um modelo. Você vai na Comuna 13, naquelas comunidades que eram dominadas por bandidos, e caminha sem medo de ter sua integridade violada. Se Medellin conseguiu mudar a segurança pública, porque o Rio não pode?

Dá para fazer, mas tem de fazer com técnica e seriedade. Não com bravatas, explorando emoções, com promessas falsas. Dizer que ‘bandido bom é bandido morto’, ouvimos há 40 anos e não resolveu nada.

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